Defesa de Qualificação ao Doutorado- Roberto Gerpe Arman Mendes Barros
Defesa de Qualificação ao Doutorado- Roberto Gerpe Arman Mendes Barros
Título do Trabalho: Plataformização da Educação Pública Superior Brasileira: Lógicas de Adoção e a problematização das Big Tech}. UNIRIO, 2025.
Resumo: A discussão, nas universidades públicas, sobre a adoção de plataformas educacionais — como Moodle, Google Sala de Aula e Canvas LMS — tornou-se um imperativo durante o período da covid-19, quando todas as aulas presenciais foram suspensas, ocorrendo “a substituição das disciplinas presenciais, em andamento, por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação” (Brasil, 2020). Os sujeitos envolvidos no processo educativo — estudantes, docentes, gestoras/es, equipes de suporte de TI das universidades e representantes do governo — não apresentaram um discurso alinhado, mobilizando distintas lógicas ao argumentar sobre qual plataforma deveria ser adotada naquele momento: plataforma de software livre, plataforma proprietária ou plataforma nacional. Observou-se que muitas universidades públicas adotaram o Google Sala de Aula, plataforma ofertada “gratuitamente” a escolas e universidades brasileiras. Essa escolha, feita sob pressão, manteve-se mesmo após o retorno das atividades presenciais. Contudo, persiste a dúvida sobre se essa foi, de fato, a melhor decisão, considerando aspectos como privacidade, posse de dados e soberania digital. A presente pesquisa tem como objetivo identificar e problematizar as lógicas que fundamentam os posicionamentos individuais e coletivos (de estudantes, docentes, gestoras/es, equipes de suporte e governo) na adoção de plataformas educacionais, compreendendo que os motivos para a escolha de uma plataforma vão além do mérito técnico, envolvendo também tensões pedagógicas, políticas e culturais. Por exemplo, sob a perspectiva de estudantes, muitos valorizam plataformas com alta usabilidade e estabilidade, o que os leva a preferir soluções oferecidas por Big Techs; por outro lado, sob a perspectiva governamental, o uso de plataformas “gratuitas” e internacionais pode gerar dependência tecnológica, entrega de dados estratégicos a corporações estrangeiras e ameaça à soberania digital do país. Para alcançar os objetivos da pesquisa, foi realizado um estudo de caso em uma universidade pública, com entrevistas realizadas com estudantes, docentes, gestoras/es e equipe técnica de suporte de TI. A partir das entrevistas, foram identificados 24 argumentos recorrentes mobilizados para justificar a preferência por determinada plataforma, estando em disputa, principalmente, o Moodle e o Google Sala de Aula. Empregando a abordagem epistêmico-metodológica Design Science Research (DSR), foi construído um modelo de decisão com base nas lógicas de adoção identificadas. Os 24 argumentos foram organizados em seis lógicas distintas: Qualidade (do produto e do serviço), Recurso didático-pedagógico, Cultura de uso, Influência social, Aspecto político, e Lógica emergencial e equidade de acesso. Essas lógicas, por vezes inconciliáveis, revelam como diferentes argumentos são utilizados para justificar ou contestar a adoção de determinadas plataformas. Os achados preliminares indicam que a lógica emergencial e equidade de acesso prevaleceu sobre outras, inclusive sobre o aspecto político, que compreende argumentos relacionados à soberania digital, à privacidade e à autonomia tecnológica. Passado o momento emergencial do ensino remoto, as disputas narrativas retornam à cena. Esse cenário evidencia a relevância do modelo proposto para explicitar as lógicas de adoção, como elas entram em conflito e como moldam as escolhas institucionais. O modelo de decisão construído nesta tese ainda precisa ser avaliado empiricamente, o que será realizado com base em procedimentos inspirados nos processos de avaliação de modelos de adoção de tecnologia, como o TAM, UTAUT e UTAUT2. Esta pesquisa busca oferecer contribuições teóricas e práticas. Teórica: identificar variáveis de adoção tecnológica e analisar suas aproximações e distinções em relação a modelos consolidados, como o UTAUT2. Prática: entregar um modelo composto por lógicas e argumentos que, ao serem ponderados, possam apoiar gestoras/es na adoção de plataformas educacionais mais alinhadas às lógicas em disputa nas instituições públicas de ensino superior.
Banca Examinadora:
Mariano Pimentel – Orientador (UNIRIO)
Sean Wolfgand Matsui Siqueira (UNIRIO)
Paulo Sérgio Medeiros dos Santos (UNIRIO)
Jaciara de Sá Carvalho (PUC-Campinas)
Suplentes:
Data e Hora da Defesa: 26/09/2025 às 14:00
Local da Defesa: Sala 502 do Prédio IBIO/CCET